História da minha infância na cozinha

Quando o mundo ainda parecia caber dentro de um quintal e o vento tinha cheiro de tarde depois da chuva, vivia uma garotinha chamada Anna — pequena, mas com uma curiosidade que queimava como brasa acesa.
Ela não sabia ainda o que queria ser “quando crescesse”, só sabia que havia algo mágico no som das panelas, no chiado do óleo, no perfume do alho dourando. Era como se a cozinha fosse um templo secreto, e cada ingrediente, um feitiço esperando o toque certo.
Tudo começou num dia em que o céu estava cor de algodão-doce derretendo. A mãe de Anna saíra pra comprar pão, e ela ficou sozinha com o gato — um bichano preguiçoso chamado Trovão. Foi aí que o destino resolveu brincar.
Anna abriu a geladeira e viu: leite, ovo, chocolate em pó e manteiga. O universo piscou pra ela.
“E se eu misturar tudo isso?”, pensou, com o olhar de quem acabara de descobrir o segredo das estrelas.
Pegou uma colher maior que a mão, derrubou metade do leite no chão e sujou o fogão inteiro — mas o cheiro… ah, o cheiro! O primeiro brigadeiro do mundo dela estava nascendo, doce e tímido, girando na panela como se dançasse pra Lua.
Quando a mãe voltou, encontrou a menina lambuzada, a cozinha um caos, e o gato com um bigode marrom de chocolate.
“Menina do céu, o que você fez?”
E Anna, com o sorriso mais orgulhoso da galáxia, respondeu:
“Fiz amor, mãe. Só que em forma de doce.”
Desde aquele dia, cozinhar deixou de ser só sobre receitas. Virou um tipo de poesia quente, uma maneira de transformar saudade em sabor, silêncio em aroma, lembrança em bolo.
E até hoje, quando Anna mexe uma panela, o universo parece parar um pouquinho — só pra ouvir o som do açúcar derretendo e pensar:
“É assim que nascem os sonhos.”
:sparkles:

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