Muito antes dos fast foods e das redes sociais, as refeições tinham outro ritmo, outro sentido – e eram cheias de simbolismo, fé e sobrevivência.
Na Bíblia, a comida não era só sustento: era símbolo, era pacto, era milagre. Cada ingrediente carregava um significado, e muitas vezes o ato de comer era um gesto de comunhão com Deus, com a família e com o povo.
Vamos viajar por esse cardápio ancestral, cheio de grãos, azeite, fé e história.
1. Pães Sem Fermento (Matzot)
Na fuga do Egito, o povo hebreu não teve tempo de deixar o pão fermentar — e assim nasceu o matzá, símbolo da pressa da libertação.
Até hoje, o pão sem fermento é comido na Páscoa judaica como lembrança da travessia.
2. Azeite de Oliva – O Ouro Líquido da Terra Santa
Presente em quase todos os relatos da Bíblia, o azeite era alimento, luz (nas lamparinas) e unção.
Reis e profetas eram ungidos com ele, e ele também servia para preparar pães, ensopados e purificar utensílios.
3. Uvas e Vinho – Fruto da Alegria (e da Tentação)
O vinho era comum nas festas, nos casamentos (como nas Bodas de Caná) e até nos sacrifícios.
Mas também simbolizava excesso e pecado — como no caso de Noé, que se embriagou após plantar videiras.
4. Peixe Assado – O Alimento dos Milagres
Jesus multiplicou peixes para alimentar multidões e comeu peixe assado após a ressurreição.
O peixe, aliás, virou símbolo secreto dos cristãos primitivos, por causa do acróstico “ICHTHYS”.
5. Ervas Amargas – Lembrança da Escravidão
Na Páscoa judaica, eram comidas ervas amargas (como almeirão ou rúcula selvagem) para lembrar da amargura vivida no cativeiro egípcio.
6. Mel – Sabor da Promessa
A Terra Prometida era descrita como “terra que mana leite e mel”.
Esse mel muitas vezes era de tâmaras esmagadas, e servia como adoçante natural. Era um símbolo de fartura e bênção.
7. Trigo, Cevada e Lentilhas – A Base do Povo Antigo
O povo bíblico comia muitos grãos, seja em forma de papas, pães ou bolinhos.
Jacó trocou sua primogenitura por um “prato de lentilhas” (o famoso ensopado vermelho), mostrando como um prato simples podia ter grande valor.
8. Carneiros, Pombas e Peixes – Proteína com Propósito
A carne era consumida em ocasiões especiais, geralmente com propósito ritual.
O cordeiro, por exemplo, era símbolo do sacrifício – tanto no Antigo Testamento quanto no simbolismo cristão, com Jesus como o “Cordeiro de Deus”.
Comer Era Ato Sagrado
Na Bíblia, comer é mais do que nutrir: é lembrar, honrar, dividir, purificar.
Seja com pão e vinho, ou com ervas e mel, a comida carregava o sabor da história — e o peso da fé.
Hoje, muitas dessas receitas ancestrais ainda existem, e nos conectam com um tempo onde cada refeição era, também, um momento espiritual.